A VISITA
Crônica, 2011

            
© Neyde Lantyer. Vovó Maria com o neto Deraldo. Fotografia original digitalizada e manipulada.
Eu tinha acabado de nascer. Minha mãe se recuperava do parto e, imagino, ainda assimilava a maternidade. Uma tia dela veio nos visitar e, olhando para mim, a primeira coisa que disse foi: “É caboclinha como a avó!” Minha mãe havia se casado com um homem inesperado. Filho de um imigrante português, - Leopoldo da Silva Baptista - com uma baiana mestiça, meu pai não era, em muitos aspectos, o noivo ideal. Hoje, considero minha avó Maria Alves Baptista, que tambem era filha de pai português - Felippo Alves de Souza - uma mulher afro-índígena, com ascendência metade portuguesa.  De seu lado materno, nada chegou aos dias de hoje alem do nome de sua mãe, Clemência Alves de Souza que, entretanto, pouco informa, já que repete todo o sobrenome do marido. Caboclo é justamente a denominação que se dá à mistura de (afro?) indígena brasileiro com branco europeu. Consta que, com os demais netos já adultos, minha avó Maria se apaixonou perdidamente por mim, mas morreu um ano e seis meses depois que nasci. Havia um retrato do casal pendurado na parede da casa de uma das irmãs de meu pai, daqueles em branco e preto com detalhes coloridos por pigmento, um híbrido de fotografia com pintura - uma foto-pintura, como se convencionou chamar, nos dias atuais. Na imagem, minha avó está sentada, cabelos lisos muito negros, trajando um vestido azul. Precisamente do mesmo tom de azul que coloriam os olhos do meu avô, de pé ao seu lado, de paletó e gravata.