A VISITA

Crônica, 2011


Eu tinha acabado de nascer. Minha mãe estava se recuperando do parto e imagino que ainda assimilando a maternidade. Uma tia dela veio nos visitar. Olhando para mim, a primeira coisa que falou foi “É caboclinha como a avó!” Minha mãe havia se casado com um homem inesperado. Meu pai não era o noivo ideal em muitos aspectos. Era filho de um imigrante português com uma descendente de índios. Caboclo é justamente o nome que se dá à mistura de índio brasileiro com branco europeu. Consta que minha avó paterna se apaixonou perdidamente por mim, mas morreu um ano e seis meses depois que eu nasci. Havia um retrato do casal pendurado na parede da casa de uma das irmãs de meu pai, daqueles tirados em branco e preto e posteriormente coloridos com pigmento, numa mistura de fotografia com pintura (uma foto-pintura, como se convencionou chamar, nos dias atuais). Na imagem, minha avó estava sentada, tinha cabelos muito negros e trajava um vestido azul. Precisamente do mesmo tom de azul que coloriam os olhos do meu avô, de pé ao seu lado, de paletó, gravata e bengala.  


Neyde Lantyer